O ÊXODO ISRAELITA

17-09-2010 11:00

 

A emigração em massa do povo de Israel do Egito, depois de muitos anos de residência e revoltante opressão, é um acontecimento tão importante na história do povo e na história da soberania de Deus que ocupa quatro livros inteiros da Bíblia (os 137 capítulos de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), além de muitas outras referências no Antigo Testamento e no Novo. O êxodo israelita é fartamente lembrado nos Salmos 105, 106, 114 e 115 e no discurso de Estêvão pouco antes de ser apedrejado (At 7.1-53). Nas palavras introdutórias dos Dez Mandamentos, Deus rememora a saída de Israel do Egito e se apresenta com as seguintes palavras: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito” (Êx 20.2; Sl 81.10). O famoso êxodo, de acordo com o registro bíblico (1 Rs 6.1), aconteceu 480 anos antes da construção do templo de Jerusalém no início do reinado de Salomão. Não há unanimidade quanto à data: pode ter sido em 1450 antes de Cristo ou 160 anos mais tarde, em 1290 antes de Cristo.

 

Muita gente

A história do êxodo israelita contém elementos quase inacreditáveis, a começar com a quantidade de pessoas que dele participaram. Além de crianças, adolescentes, mulheres e idosos, havia cerca de 600 mil homens de mais de 20 anos (Êx 12.37, 38.26; Nm 1.46, 11.21). Se para cada homem houvesse apenas uma criança e uma mulher, o número de peregrinos iria para 1,8 milhão. Se, na melhor das hipóteses, houvesse quatro outras pessoas (o cônjuge e três filhos), o número subiria para 3 milhões.

 

Muita bagagem

Cada família levava seus pertences, apetrechos, roupas, jóias de prata e ouro que receberam dos egípcios no dia da partida, além de seus rebanhos tanto de ovelhas como de cabras (Êx 12.38). É muito provável que levassem também uma barraca ou tenda para armar ou desarmar conforme as circunstâncias (Êxodo 18.7 - (NTLH) - diz que Moisés entrou em sua barraca para conversar longamente com o sogro, Números 25.6 diz que Zinri levou uma mulher moabita para dentro de sua barraca e Êxodo 33.10 diz que cada israelita adorava a Deus em pé na entrada de sua própria barraca).

 

Muito tempo

O êxodo durou muito tempo -- 40 anos --, durante o qual todos os homens com mais de 20 anos que haviam saído do Egito tombaram no deserto, como resultado da revolta coletiva provocada pelo relatório pessimista de dez dos doze espias enviados a Canaã (Nm 14.26-38). Eles deram muitas voltas e fizeram muitas paradas. Certamente caminhavam bem mais vagarosamente do que os nômades do deserto, que hoje percorrem de 15 a 20 quilômetros em um dia de jornada.

 

Situação muito incômoda

Não havia sensação de permanência. Era uma enorme sucessão de entra e sai, de fazer e desfazer malas, de armar e desarmar acampamento. Era uma vida em trânsito, sem a segurança de uma residência fixa. Com tanta escassez de água, como lavar as mãos, o corpo, a roupa, as vasilhas? Como purificar a impureza causada pelas emissões dos órgãos sexuais, (a menstruação feminina e a polução masculina), como exigiam as normas (Lv 15.1-32; Dt 23.9-11)? Como limpar os bebês? O acampamento deveria estar sempre limpo, para a glória de Deus e para sobrevivência do povo (Dt 23.14). Não se deveria urinar e evacuar em qualquer lugar (Dt 23.12-13), embora na época não houvesse sanitários químicos.

 

Relacionamento muito difícil

As relações pessoais não são fáceis. Quanto maior o número de pessoas num mesmo lugar, mais difíceis elas de tornam. Havia grupos distintos quanto ao gênero (homens e mulheres), quanto à idade (crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos), quanto à tribo (Bezalel e Aoliabe, os dois principais artífices do tabernáculo, por exemplo, eram da tribo de Judá e de Dã) e quanto à etnia (nem todos eram israelitas). A Bíblia registra que entre os caminhantes havia “grande multidão de estrangeiros de todo tipo” (Êx 12.38, NVI), talvez minorias perseguidas e outros escravos, bem como egípcios casados com israelitas e egípcios tementes a Deus. Havia tantos problemas que Moisés ficava ocupado com eles “desde a manhã até a noite” (Êx 18.13). Algumas questões eram mais difíceis e outras, mais fáceis (Êx 18.22).

 

Muita dependência de Deus

Os peregrinos dependiam de Deus em tudo. “Durante o dia o Senhor ia à frente deles numa coluna de nuvem, para lhes mostrar o caminho. Durante a noite ele ia à frente deles numa coluna de fogo, para iluminar o caminho, a fim de que pudessem caminhar de dia e de noite” (Êx 13.21, NTLH). Não havia pepinos, melões, verduras, cebolas, alhos, carnes (Nm 11.4-5) nem sobremesas e bebidas (Dt 29.6), mas o suculento maná caía do céu durante a noite simultaneamente com o orvalho, dia após dia, durante os quarenta anos de êxodo (Nm 11.7-9). Quando não havia oásis nem água, Deus fazia “com que o deserto se transformasse em lagos e a terra seca virasse fontes de água” (Sl 107.35). Quando havia água, mas água amarga, ele a tornava boa para beber (Êx 15.23-25). O cuidado de Deus abrangia outros setores menos cruciais, como destaca Moisés em seu discurso à entrada de Canaã: “Nesse tempo todo [os quarenta anos de deserto] não ficaram gastas as roupas que vocês vestiam nem as sandálias que calçavam” (Dt 29.5). Na passagem paralela, Moisés lembra mais um detalhe: “E os pés [de vocês] não ficaram inchados” (Dt 8.4; Ne 9.21).

 

Muito pecado

Embora sob o estrito cuidado de Deus e fartamente instruídos sobre como comportar-se, os israelitas caíram em pecado várias vezes durante o êxodo. Eles são acusados de incredulidade, ansiedade, ingratidão, reclamação, murmuração, provocação, rebelião, idolatria e orgia sexual. Entre os maiores escândalos, estão o caso do bezerro de ouro (Êx 32), a animosidade de Miriã e Arão contra Moisés (Nm 12), a incredulidade dos dez espias e o tumulto coletivo que eles causaram (Nm 14), a revolta dos 250 israelitas de fama liderados por Corá (Nm 16), a adoração de Baal-Peor e a relação sexual com as sacerdotisas moabitas (Nm 25).

 

Muita disciplina

Porque Deus é santo e justo, cada escândalo dos israelitas a caminho da terra prometida era severamente punido. No caso da murmuração coletiva, muitos foram picados por serpentes venenosas e morreram (Nm 21.6; 1Co 10.9). No caso de Baal-Peor e da imoralidade sexual com as moabitas, “vinte e três mil deles caíram mortos num dia só” (1Co 10.8). No caso do tumulto provocado pelos dez espias, Deus decretou o prolongamento do êxodo até que morressem no deserto os 600 mil homens de mais de 20 anos que saíram do Egito na noite do dia 14 de nissan.

 

Muito êxito

O êxodo de Israel foi um êxito de Deus. Foi um laboratório no qual se implantou o monoteísmo, o temor do Senhor, a religião judaica, o culto, o sacerdócio e a assembléia dos crentes. Nesse longo período de tempo, Deus se revelou de maneira marcante, acabou com a pluralidade de deuses, condenou a adoração de imagens, mostrou a sua soberania e providência, proclamou a sua justiça e misericórdia e providenciou os códigos de fé e de conduta. No êxodo nasceu a nação de Israel, com leis próprias e espaço próprio, com o propósito de ser luz para as outras nações (Is 49.6). Tudo isso foi acontecendo paralelamente a todos os outros episódios normais da vida e de uma sociedade: as meninas viravam mocinhas, as mulheres casadas engravidavam e as cinquentonas entravam na menopausa. Havia nascimentos, casamentos, mortes e enterros.

 

Extraído do site: www.ultimato.com.br